quarta-feira, novembro 14, 2012

Sobre Bruxelas

Depois de 3 anos a viver em Bruxelas, é giro encontrar isto e isto: as minhas primeiras impressões da primeira viagem a Bruxelas, em 2005.

Então, fiquei apenas uma semana e estava longe (tão longe) de imaginar que um dia Bruxelas seria o lugar onde eu iria viver. Porém, a verdade é que a vida dá voltas e mais voltas e eis que em 2009 troquei Lisboa por Bruxelas. E, tirando os dias em que me apetece atirar todo e qualquer belga pela janela, não me arrependo. Claro que ainda me queixo do frio. Claro que ainda me irrito com o cheiro a gauffres e a batatas fritas. Claro que ainda grito de cada vez que um táxi não me aparece à hora marcada. Claro que ainda insulto a neve (sim, há coisas perfeitamente irracionais na vida de uma rapariga). Claro que que ainda grito de cada vez que um serviço que era suposto funcionar e ser eficiente, não é. Claro que falar mal de Bruxelas ainda é um dos meus temas preferidos nos dias de humor cinzento escuro.

Mas, malgrè tout, a verdade é que ao fim de três anos estou pacificada com a minha escolha. Descobri umas tantas coisas de que gosto e aprendi a aceitar outras tantas como fazendo parte desta experiência única que é a "desolândia".

E, talvez seja mesmo esse o segredo de Bruxelas. Ir conquistando, devagarinho, para lá da irritação imediata com o trânsito, com o caos, com a desorganização e com a falta de carácter próprio. Como escrevi noutra ocasião, a ausência de expectativa (todos dizem que Bruxelas é desengraçada, cinzenta, apática e sem alma), acaba por ser a grande mais valia desta cidade. Porque, cada recanto engraçado, cada parque verde, cada praceta animada e cada bairro com alma própria acaba por se tornar apaixonante por si só, na sua simplicidade e na sua quase resignação.

Esta não é uma carta de amor a Bruxelas. Porventura, Bruxelas nunca será um amor. Sequer uma paixão. Mas, curiosamente, é no exacto momento em que as rodas do avião tocam o chão em Zaventem e sentimos aquela estranha emoção de ter chegado a casa, que percebemos que Bruxelas já não é indiferente. E porventura, nunca mais voltará a ser. Que mais não seja porque estará, para sempre, cheia das minhas memórias.

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