sábado, setembro 29, 2012

Da educação



Estas notícias não são, por si só, más ou boas. Isto porque o nível de desenvolvimento de um país não se pode medir, apenas, pelo número de licenciados, mestrados ou doutorados. Ainda a semana passada tinha esta conversa à volta de um brunch: o que o 25 de Abril fez foi criar a ilusão de que seria pelo “canudo” que se aboliriam as barreiras sociais, então ainda muito presentes na sociedade portuguesa.
Assim, a educação não era importante por si, pelo que, de facto, representa para o desenvolvimento individual, mas pelo estatuto social que supostamente a licenciatura (o canudo) garantiria. Por isso mesmo, depois da revolução, fecharam-se aquilo a que hoje chamaríamos os cursos técnico-profissionais e criou-se a ilusão – porque foi mesmo isso – de que seríamos um país de “Senhores Drs”. E, daí decorria que quem não tivesse o Dr. antes do nome, não tinha valor. Durante uns tempos se calhar isto até funcionou, mas haveríamos de chegar ao ponto de ruptura e de saturação. Hoje há licenciados a mais e bem que podemos gritar que somos a geração mais preparada de sempre – seremos mesmo? – que não é isso que nos vai garantir nem o emprego, nem o trabalho, nem o salário ao fim do mês, nem a felicidade ou a realização. 

Mas foi esta a sociedade que criámos, ao não dar valor às pessoas pelo que elas são, mas apenas pelo que elas têm. Há uns anos era o “canudo”, tal como hoje é o carro ou o telefone de última geração. São tudo alavancas sociais numa sociedade que ainda não cicatrizou feridas e ainda vive uma luta de classes latente. Sem perceber que não é a profissão que determina o que cada pessoa é e o seu valor social (será que existe mesmo um valor social da pessoa?). Sem ver que tanto são importantes os que estudam medicina, economia, direito, filosofia, engenharia, história, física ou matemática, como aqueles que, sem tal conhecimento académico, desempenham profissões de igual dignidade e de vital importância. Um médico não é mais do que um cozinheiro. Um advogado não é mais do que um sapateiro. Um arquitecto não é mais do que um electricista. Antes pelo contrário. Um mau médico, um mau advogado ou um mau arquitecto deverão ser menos valorados pela sociedade – pelo que dão à comunidade - do que um excelente cozinheiro, um excelente sapateiro ou um excelente electricista. 

Nada disto pretende reduzir a educação a uma elite que “pode”. Antes pelo contrário. O problema é infinitamente mais complexo do que isso. A educação deve estar acessível a todos, naturalmente, mas deve ser disponibilizada de acordo com as aptidões, capacidades e sonhos de cada um. Deve ser dado igual valor à vertente académica e profissional. Os cursos profissionais não devem estar reservados àqueles meninos que o “sistema” não quer e de quem não gosta. A educação deve ser de facto uma ferramenta ao serviço das pessoas e da comunidade que serve e deve olhar às necessidades, às capacidades e à vocação – porque não - de cada criança, dizendo-lhe, desde o início que a sociedade precisa de todos por igual e precisa de pessoas competentes e com sólida formação – académica, práctica e profissional – em todas as áreas. 

Nenhuma cidade sobreviveria só com advogados – mal seria! – assim como nenhuma cidade viveria sem um padeiro. De uma vez por todas, metam na cabeça que não é o Dr. que nos faz ser o que nós não somos e não é isso que devemos valorizar nos outros. Devemos valorizar, isso sim, a competência, a curiosidade intelectual, a capacidade e o brio de querermos ser os melhores nas tarefas que desempenhamos, sejam elas quais forem. Porque só isso tem valor. E antes ser o melhor padeiro da minha rua do que o advogado mais incompetente (e infeliz!).

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