sábado, julho 22, 2006

Gone With the Wind


Já outras vezes falei do meu filme preferido, «Gone with the Wind», e hoje volto a falar dele... não do filme, mas do livro que lhe esteve na origem, a fabulosa história contada por Margaret Mitchell ,ao longo de quase 1000 páginas que nos prendem e nos fascinam.

Mesmo sem imaginar possível, consegui gostar ainda mais do livro (faltam-me apenas as 40 páginas finais) que do filme, embora este continue a ser uma obra magnífica que faz plena justiça ao livro! Porém, não tem a mesma densidade e, naturalmente, ao ter que fazer escolhas e cortes na história, há momentos que se perdem e sensações que não passam para a tela.

Um dos casos mais flagrantes é o de Ashley... o Ashley do livro consegue ser ainda mais fraco e mais impotente face à tragédia que o rodeava. Mais, no filme, apesar de tudo, paira sempre a dúvida sobre os verdadeiros sentimentos que ele devotava à heróina. Porém, no livro não há qualquer dúvida. Ashley ama e deseja Scarlett, para lá de todas as convenções, mas não cede a esse sentimento apenas por cobardia, embora continue sempre a alimentar as ilusões amorosas da heroína. Tal como Rhett explica no final, «the pathetic figure of honourable Mr. Wilkes who can't be intellectually faithful to his wife and yet has never been physically unfaithful to her».

Existia, assim, um verdadeiro triângulo amoroso entre o homem que ama Scarlett mas não tem coragem de assumir esse amor e assim romper com as regras de gentlemanship vigentes no velho Sul, o homem que ama Scarlett para lá das convenções e que tudo fará para a conquistar para si, e a heroína, que nutre um amor puramente platónico pelo galante e honrado Ashley e uma imensa paixão e atracção por Rhett Buttler, o único homem que a conhece, a compreende e a ama por aquilo que ela verdadeiramente é ("he reads me as if I was a book").

Tudo isto passa no filme, ao de leve, mas não com tanta franqueza como Margaret Mitchell nos conta... ela não pretendeu fazer uma heroína perfeita ou etérea. Scarlett é uma mulher notável, corajosa e apaixonada, mas uma mulher que tem defeitos, que não consegue dar o devido valor a sentimentos como a nobreza de carácter e a amizade (daí só perceber Melanie no final), que não consegue ser feliz porque permanentemente deseja o que não tem, que não consegue perceber ou corresponder ao amor que lhe Rhett lhe dá e só consegue descobrir que também ela o ama quando o perde...

Mas tal como vejo o filme, também, no livro a mensagem é sempre a mesma. Scarlett "morre" para nascer de novo. Ela é a heroína que nunca se dá por derrotada... é por isso que, mesmo acabando o livro com um enigmático «Tomorrow is another day», sabemos que Scarlett reconquistará Rhett e, nesse momento, livre do fantasma de Ashley, dar-lhe-á o valor que sempre recusou reconhecer. E talvez aí seja, enfim, feliz...

Por tudo isto, e apesar de todos os desencontros, continuo a achar que esta é uma das mais belas histórias de amor do cinema (e da literatura)... apesar de Scarlett e Rhett tudo fazerem para destruirem os sentimentos que os unem, estes permanecem e vão ganhando cada vez mais intensidade... é o amor que cresce embora seja constantemente negado e é a chama que não se apaga, apesar de ambos tudo fazerem para que isso aconteça!

Por fim, escusado será dizer que Scarlett terá sempre os olhos verdes de Viven Leigh e Rhett Buttler o fascinante sorriso cínico de Clark Gable.

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