quinta-feira, março 10, 2005

O problema de Freitas

Não é segredo que eu sou pró-americana e até tenho uma certa simpatia por Bush.
Porém não é por isso que não gosto de ver Freitas no MNE (muito menos será por Freitas ter sido CDS em tempos e ter saído!). O meu problema não é, de igual modo, a infeliz frase em que o Professor comparava Bush a Hitler, muito menos o desfile na Avenida da Liberdade de braço dado com o 'camarada' Louçã. Eu sei perfeitamente que o Professor Freitas é um homem inteligente e que saberá, decerto, distinguir aquilo que são as suas posições pessoais daquilo que é (ou deverá ser) a condução da política externa portuguesa. Por isso, não imagino Freitas a proferir, como Ministro, frases do género das que disse em 2002 durante a intervenção americana no Iraque. (Se o fizer, para mim, será uma surpresa!)
O que me preocupa (e muito) em Freitas é que o seu anti-americanismo vem acompanhado de visões da Europa que não me agradam. O Professor é daqueles que apoia veementemente (e há muitos anos, honra lhe seja feita) o federalismo no seio da União Europeia e partilha daquelas visões meio absurdas, meio idealistas, que vêem a Europa Federal como um contra-poder aos Estados Unidos (um mundo novamente bipolar!).
Ora, esse sim, é o sinal que eu pessoalmente não quero ver imprimir à política externa portuguesa, sobretudo num momento em que a Aprovação do TCUE poderia abrir na sociedade portuguesa o debate Europeu que, até hoje, nunca foi feito, sendo até muito útil que tal texto fosse chumbado, na medida em que a actual conjuntura internacional não se compagina com o caminho que tal tratado pretende preparar! Para mim, é uma evidência que a Europa não está preparada para um Governo único, que fale a uma só voz, principalmente em assuntos tão delicados como os de política externa, em que as divergências são imensas!
Indo ao porquê dos meus receios, Portugal mexe-se, em termos de política externa, em três eixos fundamentais: o eixo Europeu, o eixo euro-atlântico e o eixo da 'portugalidade' (as nossas antigas colónias). A política externa terá sempre que assentar nestes três eixos para ser equilibrada. Sempre que seja dado maior ênfase a um deles Portugal sairá prejudicado.Ora, ter no MNE um adepto confesso de uma política Europeia de pendor federalista e, ainda por cima, com más relações com os EUA, contribuirá para subalternizar o eixo euro-atlântico que Portugal sempre preservou e que, neste momento, poderia ser crucial, num contexto em que os aliados dos EUA na Europa não são muitos e, tendo em atenção que a Espanha de Zapatero não é a Espanha de Aznar, Portugal seria interlocutor privilegiado com a Administração Americana!
Para além do mais, se há coisa que me irrita na União Europeia é o Eixo Franco-Alemão e as suas ideias de construção de um contra-poder europeu aos Estados Unidos, partilhadas pelo nosso actual MNE.
Como já foi cabalmente explicado, só há duas formas da Europa se sobrepor aos Estados Unidos: a económica e a militar. Se economicamente a tese ainda poderia ser viável, a longo prazo, militarmente só em sonhos, e nos mais ousados! Basta atentar ao facto de que o Orçamento dos EUA para a Defesa é superior ao orçamento do total dos países da Nato somados, excluindo os próprios EUA, como é óbvio! Mas há mais, podem dizer-me que os Estados Unidos da Europa podiam aumentar o seu orçamento em Defesa e com isso igualar os EUA. Engano. Para além dos EUA partirem em franca vantagem, o seu Orçamento, embora elevadíssimo, representa à volta de 3,5% do PIB. Para a Europa fazer face a este tipo de investimento teria que, quase, triplicar o seu investimento em Defesa, o que signicava que o seu orçamento para a Defesa teria que representar mais de 6% do PIB. Tal nível de investimento, implicaria a ruína do Estado previdência na Europa. Será que o Eixo Franco Alemão estará disposto a pagar esse preço? Como é claro, tais ideias são completamente impraticáveis e, de facto, o mundo em que vivemos é, desde o final da Guerra Fria, unipolar tanto ao nível económico como militar! Não há poder que possa fazer frente ao gigante americano e qualquer sonho Europeu nesse sentido só poderá conduzir à ruína dos seus promotores.
É por essa razão que acho perigoso ter um MNE anti-americano e federalista, na medida em que ele vai recentrar a nossa política externa na Europa e vai alinhar pelo eixo-franco-alemão que vê o aprofundamento da União Europeia, através do federalismo, como condição para a criação do tal contra-poder.
Mais do que qualquer outra coisa, ter Freitas como MNE é perigoso e uma aposta manifestamente desajustada. A menos que ela não queira dizer nada em termos estratégicos e seja apenas 'fogo de vista'!

3 comentários:

Anônimo disse...

O que vale é que Sócrates já normalizou as relaçóes com Bush. Assim durmo muito mais tranquilo!

Anônimo disse...

O que vale é que Sócrates já normalizou as relaçóes com Bush. Assim durmo muito mais tranquilo!

Anônimo disse...

O que vale é que Sócrates já normalizou as relaçóes com Bush. Assim durmo muito mais tranquilo!